quinta-feira, 10 de julho de 2008

Terça-feira, 8 de Julho de 2008

Jornal do Brasil (RJ): Negro ganhará igual ao branco só daqui a mais três décadas. População negra será a maior do país ainda este ano, segundo o Ipea

Por Luciana Abade de Brasília

A diferença de renda entre negros e brancos pode acabar em 32 anos se os programas de transferência de renda do governo seguirem o ritmo atual. É o que mostra estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), divulgado ontem, em Brasília, no dia em que se comemorou os 120 anos da abolição da escravatura.
O problema, segundo o diretor de Cooperação e Desenvolvimento do Ipea, Mario Theodoro, é que programas como o Bolsa Família já estão no limite de inclusão.
A expansão da aposentadoria rural e os aumentos do salário mínimo também são apontados pelo estudo como políticas que levaram à redução da diferença de renda entre brancos e negros nos últimos anos.
Quase a metade
De acordo com o Ipea, a renda da população negra no Brasil corresponde a 53% da renda dos brancos. Enquanto os brancos recebiam, em 2006, uma remuneração mensal de R$ 1.087, os negros recebiam R$ 578,24.
Os negros continuam ocupando os postos menos privilegiados. Entre os trabalhadores sem carteira, 55,4 são negros. Eles também são maioria no serviço doméstico: 59,1%.
Na agricultura, 60,3% dos trabalhadores são negros. Na construção civil, os negros correspondem a 57,9 da mão-de-obra.
Maior representação
A população branca tem maior representação nas posições mais estruturadas. Os serviços ligados ao setor financeiro também são dominados por brancos. Dos assalariados com carteira assinada, 57,2% são brancos. Eles também correspondem a 71,7% dos empregadores.
Existem hoje no Brasil 4,5 milhões de negros desempregados. É quase um milhão a mais do que os brancos, 3,7 milhões.
Os negros ocupados correspondem a 60,4% dos que ganham até um salário mínimo e a somente 21,7% dos que ganham mais de 10 salários mínimos. Entre os ocupados brancos, esses percentuais equivalem a 39% e 76,2% respectivamente.
Esses números, segundo o diretor do Ipea, demonstram a ausência do Estado e a negação de que a questão racial é um problema social.
- A população branca ainda tem mais acesso às políticas públicas do governo do que os negros ? garante Theodoro.
Na sua opinião, serão necessárias outras políticas públicas, como a melhoria da educação pública e o sistema de cotas, para sanar a diferença de renda.
Educação
Theodoro defende o sistema de cotas nas universidades como maneira de equalizar, também, as oportunidades de educação. Ressalta, no entanto, que o sistema deve ser temporário.
- Se as cotas forem eternas, vamos admitir eternamente a desigualdade - explicou.
Segundo o diretor, o sistema de cotas é assumido pela comunidade acadêmica porque ainda não é uma política de governo.
- As cotas não são suficientemente capazes de acabar com as diferenças, mas vai propiciar a ascensão de muitos negros à classe média, porque é a educação que dá acesso aos melhores postos de trabalho no Brasil. Precisamos colorir a elite desse país - defende.
Em 1976, 5% da população branca tinham diploma de educação superior aos 30 anos. Os negros da mesma faixa etária só atingiram o mesmo percentual em 2006.
Em 1976, a população brasileira era constituída por 57,2% de brancos e 40,1% de negros. Já em 2006, a população negra correspondia a 49,5% da população do país.
O Ipea estima que a população negra vai se igualar em número à branca ainda em 2008 e será maior em 2010. Isso vai ocorrer porque campanhas de valorização têm levado as pessoas a se auto-denominarem negras ou pardas. A taxa de fecundidade das mulheres negras também influência.

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